Código do Trabalho: 55
Categoria: Relato de Caso
Instituição de Ensino: UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
Título:
DISSECÇÃO AÓRTICA MIMETIZANDO SINAIS CLÍNICOS DE PERICARDITE AGUDA: RELATO DE CASO
Autores:
NICOLE MOMBELLI MATTEI, JULIA KREFTA ZANIN, IZABELLE CAVANUS FONTANA, VICTÓRIA VARGAS, PATRÍCIA ARCENO, RONEI MARQUEZAN DE OLIVEIRA
Tema Livre:
Introdução:
A dissecção de aorta tipo A de Stanford envolve a aorta ascendente (anterior à artéria subclávia esquerda) e tem uma alta taxa de mortalidade. Geralmente, o quadro clínico inicial envolve dor torácica súbita e intensa, de caráter lancinante, na região retroesternal. Em apresentações mais raras, a dissecção tipo A pode apresentar sintomas relacionados com insuficiência aórtica, derrame ou tamponamento pericárdico, e até mesmo manifestações neurológicas agudas. Recomenda-se que a intervenção cirúrgica deve ocorrer o mais breve possível, e, apesar da evolução das técnicas intervencionistas, a taxa de óbito no evento agudo é alta.
Descrição do caso:
Paciente masculino de 59 anos, tabagista, foi admitido na emergência com dor torácica retroesternal, ventilatória dependente, de moderada intensidade (6/10) e evolução de três dias, acompanhada de tosse seca. Encontrava-se em bom estado geral, hemodinamicamente estável. Ao exame físico, apresentava atrito pericárdico e dor reprodutível à palpação torácica. Eletrocardiograma documentou ritmo sinusal, supradesnível difuso do segmento ST e infradesnível do segmento PR, troponina de 350 pg/mL e PCR de 95md/dL.
Diante da hipótese de pericardite, o paciente foi internado e manejado com Ibuprofeno 600mg de 8/8h. Após 3 dias, houve resolução da tosse e melhora parcial da dor, troponina de controle apresentou padrão de curva para 1800 pg/mL, o que motivou a solicitação de cineangiocoronariografia para o descarte de eventos coronarianos. Já na fase de ventriculografia do exame, confirmou-se lâmina de dissecção em aorta ascendente e hemopericárdio.
Imediatamente foi indicada cirurgia cardíaca ao caso, em discussão multidisciplinar. No transoperatório, documentou-se hemopericárdio e sinais claros de inflamação das serosas do pericárdio. Porém, devido à extensa calcificação da aorta (aorta em porcelana) no coto distal do sítio de anastomose, não houve possibilidade de correção cirúrgica.
Adotou-se tratamento conservador, e após 5 dias o paciente recebeu alta, sendo afastado de todas as suas atividades regulares. Mantém acompanhamento ambulatorial há mais de 1 ano, até o momento clinicamente estável.
Conclusão:
A estatística não é favorável para pacientes com dissecção aórtica tipo A e abordagem conservadora, a sobrevida é extremamente baixa, a tal ponto que, em 60 dias, mais de 60% dos pacientes evoluem para óbito, sem tratamento cirúrgico. Apesar de a conduta cirúrgica na abordagem inicial ser unânime, apresentações atípicas da condição podem retardar a indicação de intervenção, levando a medidas clínicas não benéficas ao paciente com dissecção, podendo aumentar o risco de complicações e óbito.
Encontramos, na literatura, diversos relatos da ocorrência de derrame pericárdico secundário à dissecção aórtica, todavia, não há evidência até o momento da incidência de inflamação das serosas visceral e parietal do pericárdio devido a este derrame, levando à confusão diagnóstica com a hipótese de pericardite aguda.
Palavras Chave:
DISSECÇÃO DE AORTA; TIPO A; TRATAMENTO CONSERVADOR
Referências:
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Zhu Y, Lingala B, Baiocchi M, Tao JJ, Toro Arana V, Khoo JW, et al. Type A Aortic Dissection—Experience Over 5 Decades: JACC Historical Breakthroughs in Perspective. Journal of the American College of Cardiology [Internet]. 2020 Oct 6 [cited 2022 Oct 21];76(14):1703–13. Available from: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0735109720362409
Mehta RH, Suzuki T, Hagan P, Bossone E, Gilon D, Llovet A, et al. Predicting Death in Patients With Acute Type A Aortic Dissection. Circulation. 2002 Jan 15;105(2):200–6.